Conforme recorda o filósofo Sidney Silveira, em seu livro Cosmogonia da Desordem (p.145):
Em suma, em si mesmas as boas ações não redimem, as boas ações não salvam, as boas ações não têm mérito sobrenatural, pois recebem tal mérito de algo que as transcende. Embora sejam mais ou menos boas; embora sejam mais ou menos louváveis, de acordo com os fins naturais a que se dirijam; embora sejam um fruto da fé, quando alimentadas pelas verdades reveladas. Ademais, se as boas ações tivessem tal poder, tal força – e, portanto, tal virtude –, só se salvariam homens honestos, bons, etc. Porém, como diz Agostinho: “Por que Deus salva verdadeiros lodos humanos e deixa homens bons se perderem?”. Não sabemos, mas sabemos que a justiça de Deus é justíssima, e isto nos basta...Porém há mais a dizer: crer cegamente no poder das boas obras é uma espécie de orgulho, pois significa colocar no próprio homem a força para salvar-se, a força para fugir ao mal e ao pecado, a força para curar-se das patologias psíquicas que o acometem. Isto não é catolicismo. Devemos melhorar, é óbvio, mas não por razões meramente humanas. Deixemos isto para os pusilânimes, para os timoratos que não conseguem ir além dos próprios interesses.Se no mundo há tanta pusilanimidade tola e tanto temor vil, é porque o mundo recusa o remédio da fé. Quer ser moralmente bonzinho, mas sem alimentar-se no Sumo Bem, que é Deus.Imagina ser possível haver virtude longe de Deus.