Escreve Santo Tomás de Aquino em Questões Disputadas Sobre a Alma, no respondeo da questão XXI:
Que uma substância espiritual esteja ligada a um corpo não é algo que sucede pela virtude que teria o corpo de deter a substância incorpórea, mas pela virtude de certa substância superior que liga a substância espiritual a tal corpo – assim como também, mediante artes mágicas, com permissão divina, e pela virtude de demônios superiores, alguns espíritos estão atados a certos objetos, sejam anéis, imagens ou coisas deste tipo. E é pelo referido modo, mas por virtude divina, que as almas e os demônios são atados ao fogo corpóreo para sua pena. Donde dizer Agostinho no livro XXI Sobre a Cidade de Deus: ‘Por que não diríamos que também os espíritos incorpóreos – de modo admirável, mas não obstante verdadeiro – podem sofrer pena do fogo corpóreo, se os espíritos humanos, que de fato são igualmente incorpóreos, tanto puderam agora ser encerrados em seus membros corporais quanto poderão então ser atados a seus corpos por laços indissolúveis?’. Logo, os espíritos aderirão, ainda que incorpóreos, ao fogo corporal para ser atormentados; recebendo do fogo pena, e não dando vida ao fogo.
Assim, é verdade que este fogo, na medida em que retém a alma ligada a ele por virtude divina, age na alma como instrumento da justiça divina. E, uma vez que a alma apreende tal fogo como nocivo a ela, aflige-se com uma tristeza interior – a qual é ainda maior quando a alma considera o fato de que, nascida para unir-se a Deus desfrutando-o, está submetida às coisas mais baixas.Por conseguinte, a maior aflição dos condenados provirá do fato de que estarão separados de Deus; e a segunda, do fato de estarem submetidos a uma coisa corporal, justamente no lugar mais baixo e abjeto.