AOS TUMULOSPobre, grosseiro, não numeroso,que importa isso? Para pregar astábuas de um ataúde qualquer pequena força basta.- ALEXANDRE HERCULANO.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Choremos sôbre a lapida esquecidaDos homens que já foram.O ceu acceita o pranto dos pequenos.Não te acobardes, não. Vamos, minh'harpa,Depôr tambem na lousa dos finados,Como a viuva, um obolo mesquinho,Mesquinho só na terra. Além das nuvensUm thesouro se torna aos pès do Eterno.Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Da grimpa do mosteiro atrôa o bronze,E de funebres sons os ares pejam,Como a tremenda voz da eternidade,Que as nuvens baixa, e perde-se no immenso.Bem!—este som diz—morte!—e apraz aos tristes,Apraz a nós, minh'harpa!Não te assuste, por tanto, a voz amiga,Que ha de chorar por nós, mau grado aos vivos,Quando não formos mais !Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Pobre instrumento,— as tuas aureas cordas,Onde pulsavas o prazer e a vida,Estalaram por si! — Estas que sobramSejam sagradas á tristeza e ao lucto.Maguas somente restam-te. Immudece,Ou canta, soluçando, as maguas mesmas.Estás cançada de chorar tam joven ?Já não sam tua essencia às grandes dores,Teu alimento as lagrymas ?Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Não vês aqui este sepulchro aberto,Corno si a terra se estivesse rindo,Para abraçar seus filhos ?Vamo'-nos junctos debruçar sôbr'elle.Nossos primeiros paes, cheios de susto,Templos aos manes levantaram quasi.Tinham razão, talvez. Christãos mais sabiosAmemos com recato a tumba ao menos,Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Assim, minh'harpa, a nossa vida inteiraDeveramos passar, cantando em threnosEsse jazigo, onde se esconde a ossadaDos seculos que passam.Aqui também na podridão, nos vermesHa de o futuro em esqueleto immensoCahir, esvaecer-se.Aqui tambem inspirações se bebemNo halito dos mortos.Aqui se incontra inexgotavel messeDe solidas ideas.Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa !Sim: fiquemos aqui.— Aquelle arbusto,Que das frestas da lapida desponta,Nasceu talvez do peito de um cadaver.A seiva humana em suas hasteas corre.Aquella flor inda transpira sanie.Lá para o meio da soidão nocturnaTalvez falle do ceu, talvez do inferno.Sim: fiquemos aqui. D'aquellas folhasTalvez saia uma voz preciza ao mundo,Talvez algum recato aos vivos traga,Talvez de nós careçam.Sim: fiquemos aqui soturnos ambos.Esperando seu brado.Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:— Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!Não te apavore o aspecto das tumbas.Esta bocca sarcóphaga que a terraAqui a nossos pés abriu medonhaNão é para ingolir-nos.O nosso calix de abundantes doresNão transbordou ainda.Tua missão, minh'harpa, é grande, é grande:Sagremo'-nos á morte.Aos tumulos, aos tumulos, minh'harpa!- Junqueira Freire
A Palavra Certa
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Entre os japoneses e chineses existe o costume de escrever orações em um
papel e usá-los como amuletos e talismãs, a isto se chama *ofuda*. Também
escrevi...
