- Que se entende por civilidade?
- Entende-se por civilidade ou polidez um conjuncto de attenções e delicadezas proprias a tornar amavel, decoroso e agradavel o nosso trato com os outros homens.
- É necessário aprender e pôr em pratica as regras de civilidade?
- Não ha duvida que sim; pois, se bem sejam muitas d'ellas de si arbitrarias e convencionaes, estão admittidas como lei entre as nações cultas, e sem ellas faltariamos á caridade e ao bem-viver.
- Leva-nos o espirito christão a ser polidos?
- O christianismo imprimiu na civilidade um caracter novo de gravidade, de distincçao, de moralidade, que ella nunca teve, ainda entre os povos mais policiados do paganismo, como nota um sabio auctor. Fazendo-nos considerar os outros homens como imagens e semelhanças de Deus, como membros de Jesus Christo, regenerados pelo seu sangue, chamados á comparticipação da mesma essencia divina, o Evangelho estreitou os laços da fraternidade, fez do genero humano uma só familia, adoçou os costumes, amenizou o trato social, e inspirou a todos esse respeito attencioso, essa fina urbanidade nas falas, nos modos, nas acções, que fazem o aprazivel das sociedades modernas.
A caridade, assim como a humildade evangelica, tornou-se, entre os povos christãos, o principio e a alma da polidez.
- Como se prova que a caridade do Evangelho é o principio e a alma da polidez?
- Prova-se pelos proprios caracteres da caridade, taes como os descreve S. Paulo: A Caridade, diz elle, é paciente, é benigna; não é invejosa, não obra temeraria e precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus proprios interesses, não se irrita, não suspeita o mal, não folga com a justiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo soffre. Claro está que isto e mais alguma pratica do mundo e conhecimento dos usos da sociedade bastará para tornar o christão um perfeito cavelheiro de maneiras amaveis, que o tornarão respeitado e estimado na sociedade de seus semelhantes.
- Podeis provar-me esta verdade ainda por outra fórma?
- Provo-a com a razão mesma. Com effeito: em que consiste a polidez e a civilidade? Consiste, em summa, no sacrificio constante que fazemos de nossos commodos aos dos outros, em um esforço continuo para não sermos pesados e desagradaveis a ninguem; antes para darmos a todos testemunhos de deferencia e respeito. Ora, o que melhor nos arma de coragem e de esforço para tantas concessões, tantos sacrificios em bem do proximo, do que a caridade que nol-o faz amar como a nós mesmos? Portanto, o maximo e primordial preceito: Amarás ao Senhor teu Deus sobre todas as cousas e ao proximo como a ti mesmo, é o principio e a base da verdadeira civilidade. E d'aqui vem a maior importancia e o caracter moral d'ella. A polidez assim comprehendida vem a ser, pois, uma amoravel expansão da caridade no trato da vida civil, uma encantadora efflorescencia do espirito christão na convivencia social.
