Usando de sua autoridade, Akhenaton procurava estabelecer o culto do único Deus, construiu um nova capital no centro do Antigo Egito, na região de Armana, marginalizando a antiga capital e o sacerdócio pagão em Tebas. Desenvolveu uma nova arte, uma nova escola arquitetônica e escultural. Também tinha uma relação mais afetiva - quase romântica - com sua esposa Nefertiti. Por fim, chegou a exercer a força de sua autoridade para proibir o politeísmo...
E apesar disso, sua tentativa de reforma falhou. Após a morte de Akhenaton sua capital foi abandonada, o culto egípcio monoteísta desapareceu, seus sucessores empreenderam uma restauração do politeísmo e o mesmo foi como que apagado da história.
Por que a reforma religiosa de Akhenaton falhou?
Podemos conjecturar e notar alguns erros estratégicos por parte do faraó. O monoteísmo do mesmo não foi explicitado intelectualmente ao povo de forma clara, além disso, o culto estabelecido pelo mesmo era centralizado em demasia sob a figura do faraó e sua família: Akhenaton não estabeleceu um clero alternativo ao tebano nem designou sucessores para continuar a sua obra.
A nova escola artística por ele desenvolvida era, ao menos na escultura, estranha e inferior a anterior. As formas arredondas e bizarras, quase como caricaturas, contrastavam com a solenidade dos ângulos retos, do ideal simétrico de então. A antiga escola era tanto mais adequada ao sagrado que a outra, que de certo modo faz lembrar os devaneios dos hippies.
Salmista?
É de autoria do faraó o Grande Hino a Aton, especialistas apontam semelhanças entre o texto egípcio e o salmo Salmo 104 da Bíblia Sagrada.
Quando te levantas, belo, no horizonte do céu,
Ó Aton vivo, aquele que deu início à vida,
Quando brilhas no horizonte do Oriente,
Enches todas as terras com a tua perfeição.
Tu és belo, grande, refulgente,
Elevado acima de todas as terras.
Teus raios cingem as terras
até aos confins de tua criação.
Em tua qualidade de Sol,
Atinges os seus confins
e os submetes ao teu filho amado.
Embora estejas longe,
teus raios chegam à terra
e a todos acariciam-lhes as faces.
Inumeráveis são as tuas obras,
Mas ocultas à vista,
Ó Deus único sem igual!
Criaste, sozinho, a terra
segundo tua resolução,
Assim como os humanos,
Todos os animais maiores e menores,
Tudo o que vive sobre a terra
e caminha sobre patas,
Os que estão no alto e voam com asas,
As terras da Síria e de Cuxe,
E a terra do Egito.
Tu colocas cada homem em seu lugar
e crias o que lhe é necessário:
Cada um dispõe de seu alimento
e o seu tempo de vida está exatamente calculado;
As línguas são diferentes,
Pois distingues os povos estrangeiros
Tu estás em meu coração
e não há outro que te conheça,
Com excepção de teu filho Neferkheperura Uaenra:
Fizeste com que ele esteja instruído
em teus desígnios e em teu poder.
A terra vem à existência por obra tua,
Já que crias as pessoas.
Quando te levantas, elas vivem;
Quando repousas, morrem.
És tu o tempo de vida em ti mesmo:
Vive-se por meio de ti.
Os olhos estão fitos em tua perfeição
até que te deitas.
Todos os trabalhos são interrompidos
quando repousas no Oeste.
— Hino a Aton; tradução adaptada de Ciro Flamarion Cardoso
Teria de fato o faraó recebido alguma inspiração do Deus verdadeiro? Creio que só descobriremos no fim dos tempos.