Acerca das filosofia perenealista, Benjamin Teitelbaum¹ expõe a doutrina de Savitri Devi:
Devi acreditava na noção Tradicionalista de tempo cíclico, mas enfatizava algo diferente ao refletir sobre ela. De acordo com essa concepção Tradicionalista, conforme o tempo avança e a ordem social se desintegra, a violência e a destruição aumentam. Isso torna a violência um mal que vem para o bem. Assim como os incêndios na natureza anunciam um recrescimento, a agressão humana destrutiva é necessária para abrir caminho à renovação social e espiritual. Tempo é violência. Ambos implicam dor e sofrimento, mas também promessa de salvação.
Alguns indivíduos influentes desempenhariam um papel relevante nesse processo. Devi afirmava que eles existiriam em três formas: homens no tempo, homens acima do tempo e homens contra o tempo. Tudo que ela via como evidência da passagem do tempo – e que acarretaria decadência gerada por egoísmo, caos e violência – estaria encarnado nos homens no tempo. Savitri Devi argumentava que esses homens não estariam cientes de seu papel em um ciclo de tempo cósmico. Desprovidos de reflexão e curiosidade, cairiam no espírito sombrio de sua época, perseguindo o prazer corporal e a riqueza material com tal crueldade que se tornariam distintas forças do mal. E deveríamos lhes agradecer por isso. Devi descrevia-se como "oprimida por um sentimento de sagrado temor ao pensar nos exterminadores em massa sem ideologias". Eles seriam chamas de fogo que nada criariam, apenas destruiriam: seriam como raios.
Se os homens no tempo estão totalmente absortos pela violência, outra categoria – a dos homens acima do tempo – escaparia a essa escravidão por meio da iluminação, obtendo insights sobre a verdade do tempo e a fragilidade humana em sua jornada rumo ao progresso, entendendo, assim, que a salvação existiria na eternidade, e não no "futuro". Seria possível encontrá-los entre os estetas que rejeitam o mundo e os místicos loucos que optam pela vida na natureza selvagem, mas eles também poderiam desempenhar papéis dificilmente reconhecidos como espirituais. Durante a idade de ouro, essas mesmas figuras seriam dignas da maior reverência e consideradas autoridades espirituais. Mas, em idades posteriores, a sociedade as ignoraria como irrelevantes ou invisíveis, embora isso não significasse que não causavam impacto. Poderiam funcionar como salvadores para aqueles à sua volta – redimindo não grupos ou sociedades, mas almas individuais que seguissem seu exemplo. Sua sabedoria nunca seria divulgada por meio de proselitismo ou força; assim como o Sol, que seria seu símbolo, ela irradiaria de seu ser, sem direção específica
Mas o clímax do pensamento de Devi é sua descrição de uma terceira figura, nascida entre os detentores de uma visão dos mistérios do universo e da verdade do tempo, mas dotada da natureza da casta guerreira. Sabedores de que as correntes do tempo apontam para a destruição, esses homens, contudo, veriam também a glória que viria em seguida. Longe dos cavalgadores de tigre recomendados por Evola como um recuo no pós-guerra, eles seriam munidos de uma ambição fanática e inspirados pelos mais elevados ideais, não pelo egoísmo, assumindo a responsabilidade de conduzir o mundo para e pela escuridão. Isso os tornaria ao mesmo tempo raios e Sol, homens "contra" o tempo.
Verdadeiros homens contra o tempo não seriam bem humanos, mas avatares. Como escreveu Devi, o último Homem "contra o Tempo" é, com efeito, ninguém menos do que Ele, cujo nome, na Tradição Sânscrita, é Kalki – a última Encarnação do divino Sustentador do universo e, ao mesmo tempo, Destruidor do mundo todo; o Salvador que colocará um fim à atual "yuga" com uma formidável exibição de incomparável violência, de maneira que uma nova criação floresça na inocência e no esplendor da "Idade da Verdade".
