segunda-feira, 12 de maio de 2025

“Onde não há inteligência, não pode haver beleza”

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É o que afirma o filósofo católico Sidney Silveira, segundo ele:
A beleza está no vértice da realidade. Mas não apenas como esplendor das formas captáveis pelos sentidos, e sim como manifestação de aspectos transcendentais do ser, acessíveis ao espírito. Ela encerra a relação de conveniência, ou de sintonia, entre uma propriedade universal do ser e a inteligência que a contempla. Se a beleza é, pois, agradável aos sentidos, a começar pela visão (pulchra dicitur quae visa placent, afirmava Santo Tomás), é porque todas as suas notas distintivas — como ordem, harmonia, proporção, integridade, inteligibilidade, etc. —, ao maravilhar o espírito, acarretam salutar refluência deste sobre as potências sensitivas. Daí dizer-se que a beleza é aprazível, da mesma maneira como a feiúra, a desordem, a desproporção, a ininteligibilidade e as imperfeições são, em geral, repugnantes.

O impacto sensorial causado pelas coisas verdadeiramente belas, às quais ninguém é indiferente, não implica que a beleza não possua razões. Ao contrário, onde não há inteligência não pode haver beleza em sentido próprio; um ruminante na catedral de Notre Dame ou diante de um poema de Camões estará na mesma situação existencial daquela do curral onde vive: mascando o seu capim com olímpica indiferença. Em suma, quanto mais corrompida estiver uma inteligência, menos capacitada estará para a fruição da beleza, pois esta não se detém no aspecto sensível, conquanto o abarque. Neste contexto, podemos dizer que, se não alcançasse nenhuma inteligência, o fulgor das coisas belas se desvaneceria, tornar-se-ia inócuo. A beleza existe para conduzir as criaturas inteligentes ao êxtase, à pletora de amor.

Desde essa perspectiva, uma restauração dos mínimos padrões estéticos nesse país exige antes uma restauração da inteligência.
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About Edmundo_Noir
Sommelier de anime, profeta do IApocalipse, missionário do chá e webteólogo. Pedalando entre ruínas.

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