De acordo com o filósofo católico Sidney Silveira:
Vejamos o caso de Kant, por exemplo. A sua tentativa de enquadrar a religião nos limites da “razão pura”, tão pretensiosa quanto equivocada, provinha de uma ignorância com relação ao próprio cristianismo. Sabemos por seus principais biógrafos que o jovem Immanuel recebeu a formação religiosa no Fridericianum, uma escola dirigida pelo mais influente professor de Königsberg — lugar onde se mesclavam de forma indiscernível luteranos, pietistas e reformados. Ali, o cristianismo era empobrecido de suas riquezas espirituais e doutrinais, e não devemos culpar de todo a Kant por ter perdido totalmente a piedade, num ambiente desses.Como nos lembra Leonel Franca no seu A Psicologia da Fé, mais tarde o maduro Kant chamará de imoral à prece; de perversão à disciplina ascética; de idolatria à invocação dos méritos de Cristo. A propósito, no Fridericianum Kant declarava abertamente não suportar a oração dos seus convivas antes das refeições, e, certa vez, pediu ao diretor da cadeia de Konigsberg que mandasse calar aos presos “hipócritas” que entoavam cânticos religiosos... Essa atitude irreligiosa de Kant era alimentada pelas graves lacunas de sua formação cristã. Sabemos hoje com certeza que, ao contrário de Leibniz, Kant jamais leu sequer uma linha de Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho ou até mesmo Suárez, e em sua pobre biblioteca não se encontraram tratados de dogmática, antigos ou recentes, e nem de ascética ou mística.