domingo, 20 de julho de 2025

O Apóstata

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 O APÓSTATA


Não sentes por sobre a face,

Como um raio inopinado,

Esse anátema sagrado,

Essa férrea excomunhão?

Não sentes a espada nua

De Roma no teu semblante,

De Roma, — eterno gigante,

Sustendo infernos na mão?


Ah! triste, perjuro infame,

Que esqueces esse legado,

Santa herança do passado,

Santa crença de Jesus!

Que a negras voragens desces,

E julgas que ao céu te elevas!

Que por turbilhões de trevas

Trocas um reino de luz!


Ah! triste, que te abismaste

Num precipício insondável

Com esse orgulho execrável

Que Lusbel inspira aos seus!

Que duas vezes perdeste

Esse domínio sagrado,

Paraíso resgatado

Co’o sangue puro de Deus!


Ah! triste, que espedaçaste,

Com sacrilégio altanado,

O juramento prestado

Junto à fonte batismal!

Co’o perjúrio que fizeste,

Tu, infante estremecido,

Cravaste um punhal buído

No coração paternal!


Ah! triste, que te desgarras,

De queda em queda passando,

Como do monte rolando

Costuma a pedrinha vir.

Ah! onde, cristão perjuro,

Parará teu baque infindo?

Ou irás sempre caindo

De um em outro nadir?


Ah! triste, que insano clamas,

Com teus sofismas cruentos,

Que de livres pensamentos

Precisa o espírito teu!

E com Lutero te abraças,

Tu, apóstata ignorante,

Na convicção protestante,

Prelúdio certo do ateu!


Vai, apóstata, perjuro,

Com esse raio gravado,

Esse anátema sagrado,

Essa férrea excomunhão!

Não sentes a espada nua

De Roma no teu semblante,

De Roma, — eterno gigante,

Sustendo infernos na mão?

- Junqueira Freire

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About Edmundo_Noir
Sommelier de anime, profeta do IApocalipse, missionário do chá e webteólogo. Pedalando entre ruínas.

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