O catolicismo é uma religião profundamente aesthetic, mesmo que as cerimonias tenham sido um tanto quanto mutiladas pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, ainda assim o mundo fica extasiado com a beleza da Igreja Católica. Contudo, se para os fiéis esse esplendor é motivo de alegria, para os pastores Igreja, mesmo aqueles mais santos, isto é uma pesada cruz. Acerca deste tema, resgato uma passagem da biografia de São Pio X, escrita pelo Frei Vitorino Facchinetti:
Fugia, porém, o mais que podia, das demonstrações clamorosas. Proibiu terminantemente os aplausos e as aclamações na basílica de São Pedro e na Capela Sistina e quando alguém, num ímpeto de alegria, se esquecia que faltava à ordem dada, o Santo Padre, pondo o dedo sobre os lábios, o chamava à ordem.Certamente, ele sentia todo o peso da tiara e das graves responsabilidades, inerentes às três coroas, e talvez isto influísse para fazer evitar demasiada pompa nas funções solenes, ao menos naquilo que dizia respeito à sua pessoa. Um dia ouviram-no clamar: “Que pena precisar seguir todos esses usos da Corte. Quando me levam entre os soldados parece-me ser Jesus, capturado no Horto.”Para se ver que a frase é genuína, basta olhar uma fotografia, reproduzida por alguns biógrafos: um instantâneo tirado no momento em que o neo-Pontífice atravessava as naves para a coroação. Pio X se conservava humilde e pequeno, rodeado da Guarda Nobre; tem as mãos juntas, como se estivessem ligadas, e tem realmente a atitude de um réu, ou melhor, de um inocente que é levado á prisão, ou de alguém que deve comparecer perante os tribunais...Quando, pois, era levado em silencio, por entre tochas, sobre a sedia gestatória em meio da multidão ansiosa e palpitante, que se aglomerava na imensa basílica, era evidente que Pio X mais do que nunca sentia o peso da cruz que o Altíssimo lhe pusera sobre os fracos ombros. A sua atitude em meio a cenas de triunfos – escreveu Wilfrid Ward – fala da vaidade de toda a glória terrena. Parece um homem carregado dos pecados e das dores do gênero humano. Tem o aspecto que convém ao Vigário daquele que chamamos o “Homem das Dores”. (p.131-132)